quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Apresentação do meu livro infantil "NA QUINTA DO TIO TOMÁSIO E OUTRAS HISTÓRIAS "







Amiguinhos, espero por vocês amanhã no Auditório do Campo Grande, 56 - Lisboa, pelas 17.30 para a apresentação do meu livro infantil dirigido a pequenitos e crescidos, com animação e outras surpresas. "Na Quinta do tio Tomásio e outras histórias" sob a chancela da Lua De Marfim Editora. Não percam, venham passar uma tarde diferente.

Beijinhos e abracinhos para todos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PÁSCOA FELIZ!


UMA PÁSCOA MUITO FELIZ PARA TODOS OS MEUS AMIGUINHOS. BEIJINHOS DE CHOCOLATE E MUITO AMOR DESENHADO COM LÁPIS DE CARINHO.

Maria Manuela Amaral

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O BANQUINHO VELHO


Um dia, a mãe Helena decidiu fazer uma arrumação no quarto do seu filho Nuno. Alguns brinquedos já estavam tão velhos que ela não hesitou em levá-los para o sótão. Entre eles estava um velho banquinho de madeira que tinha uma perna partida e a mãe do Nuno substitui-o por uma cadeirinha nova, pintada de branco. Mas o Nuno sentia tantas saudades do seu velho banquinho! E este, também sentia muitas saudades do menino.
Fechado no sótão da casa, que era escuro e muito frio, o banquinho sentiu-se abandonado para sempre, entre aqueles grandes baús e teias de aranha. Triste com o destino que a mãe Helena lhe dera, pensou em fugir dali. Mas teria que esperar por um dia em que não estivesse ninguém em casa.
E num domingo de manhã a família saiu para um passeio, iam fazer uma caminhada pela serra de Sintra. Então, o banquinho velho abriu a porta do sótão, desceu as escadas coxeando e dirigiu-se para a sala de jantar. Lá estava a lareira no mesmo sítio. Ao lado, onde ele começara por ficar, no tempo do pai João, estava agora uma cadeira de baloiço. Mais tarde, o Nuno nasceu e o seu lugar passou a ser ao lado da caminha dele. A coxear, foi ao quarto do menino, viu a cadeirinha branca e pensou tristemente:
- Aqui já não há lugar para mim…
Foi ao jardim, olhando em redor tentando descobrir um sítio onde pudesse ficar sem que ninguém o visse.
- Já sei, ali atrás dos malmequeres é um bom esconderijo!
Todos os dias à tarde durante a sesta da mãe Helena, o banquinho saía do seu refúgio e brincava na relva muito contente. Rebolava, dava cambalhotas…
Um dia, porém, a mãe do Nuno foi regar os malmequeres com uma mangueira muito comprida que havia no jardim e imaginem qual não foi o seu espanto ao ver o banquinho velho no meio das flores!
- Que estranho! – exclamou baixinho – quem o terá trazido para aqui? Devem ser coisas do Nuno…
E voltou a guardá-lo no sótão.
- Que má sorte a minha! – queixou-se o banquinho quase a chorar.
Quando a família se reuniu ao jantar, a mãe perguntou ao Nuno:
- Foste tu que trouxeste o teu banco velho para o jardim, filho?
- Eu não, mãe! Mas porque me fazes essa pergunta?
- Porque eu encontrei-o lá quando fui regar os malmequeres, esta manhã. – respondeu a mãe.
- Que estranho… - disse o pai João, pensativo.
- Foi o que eu pensei – respondeu a mãe Helena, piscando um olho ao marido.
Entretanto, o velho banquinho passou a noite toda a lamentar-se.
- Nunca mais poderei sair daqui. O sótão é tão frio e cheira tanto a bafio…
O tempo foi passando. Um dia, a família voltou a sair para fazer um piquenique no campo, num domingo de calor. E o banquinho aproveitou a ocasião para voltar a fugir do sótão. Procurou por toda a casa um sítio seguro para se esconder e decidiu ficar atrás do sofá grande, na sala da lareira.
- Aqui, a mãe Helena não me vê!
Todas as noites, ele espreitava a sala e via o pai João sentado na sua cadeira de baloiço a ler o jornal, a mãe Teresa a fazer a fazer tricô e o Nuno a jogar Playstation ou a ver televisão. Sentia-se tão feliz! Fazia, novamente, parte da família. Há mais de um mês que estava ali escondido e ninguém o tinha descoberto!
Porém, na semana seguinte, a mãe Helena resolveu mudar os móveis da sala.
- Ai que lá vou eu para o sótão, outra vez! – pensou o banquinho angustiado.
A mãe do menino mudou a mesa para ali, a televisão para acolá, o móvel mais para trás e quando afastou o sofá grande para a frente lá estava o banquinho velho encostado à parede.
- Ora esta! Novamente fora do sótão?
Cruzou os braços sorrindo e pensou alto:
- Isto só pode ser coisa do Nuno, de certeza absoluta! Ele gosta tanto deste banco…
Olhou para o banquinho, mirou-o muito bem, pegou nele dando-lhe muitas voltas até o deixar tonto e, por fim, disse:
- Já sei! Vou fazer uma surpresa ao Nuno.
Foi ao sótão e trouxe cola, um martelo, alguns pregos, um pincel e umas latinhas de tinta. Levou o banquinho para o jardim e colou-lhe a perna partida. Com o martelo pregou-lhe dois pregos para ficar bem segura.
- Ui…ai…isto dói…ui – queixava-se o banquinho, contudo, muito feliz por estar a ser arranjado.
No fim, a mãe do menino pintou-o todo de azulinho e pô-lo a secar ao sol. Algumas horas mais tarde, levou-o para o quarto do filho e colocou-o ao lado da cadeirinha branca.
- Hoje, quando o Nuno chegar da escola terá uma agradável surpresa! – exclamou satisfeita com o seu trabalho.
E o banquinho velho deixou de ser velho e coxo para se transformar num novo e bonito banquinho. Estava tão contente!
- Ufa, já era tempo da mãe Helena reparar em mim!

Maria Manuela Amaral

O GALO QUE PERDEU A VOZ


A avó Lurdes tinha um grande quintal com vastos canteiros de rosas, algumas árvores de fruta, uma capoeira com cinco galinhas e um galo. Três galinhas eram castanhas e duas eram branquinhas. Mas o galo, não. Tinha belas penas castanhas avermelhadas e uma soberba crista vermelha, que faria inveja a qualquer outro galo.
Todos os dias, ao nascer do sol, orgulhoso da sua voz, o galo cantava assim:
- Có-có-ró-có-cóóóó!
As galinhas costumavam discutir, entre si, para ver qual delas lhe agradava mais. Mas ele, arrogante e presunçoso, não mostrava preferência por nenhuma e passeava-se na capoeira com ares de grande senhor Galo.
Porém, um dia, toda aquela vaidade terminou. E porquê? Porque o senhor Galo perdera o seu cacarejar. Pois foi… Assim, de um dia para o outro. Coitado, já nem parecia o mesmo. Sempre cabisbaixo e de mau - humor. As pobres galinhas passavam o dia inteiro encolhidas a um canto da capoeira, pois ele implicava com elas por tudo e por nada! Bonito serviço!
A avó Lurdes não sabia o que fazer.
- Isto assim não pode continuar! – queixava-se ela – O galo não canta e, ainda por cima, passa o dia a picar as galinhas! Que hei-de eu fazer?
Depois de muito pensar, tomou uma decisão. Foi à capoeira e trouxe o galo preso pelas asas, cá para fora.
- Tenho muita pena, mas já não me serves para nada. – Disse, pegando numa faca.
O galo olhou, assustado, para a avó Lurdes.
- “ Para que quer ela esta faca? “ – pensou, aterrorizado.

Vocês calculam o que a avó Lurdes ia fazer? Ora pensem lá… Isso mesmo! Decidiu transformar o galo numa apetitosa canja. Vocês gostam de canja, não gostam?

Pois é, mas quando a avó Lurdes se preparava para lhe cortar o pescoço, ele apavorado, esperneou tanto e com tanta força que, por fim, conseguiu soltar-se das mãos da dona. Pulou o muro do quintal e fugiu espavorido, até ter certeza de estar a salvo!
E há males que vêem por bem, senão vejam…
A aflição fora tamanha que, após algumas horas, o seu belo cantar voltara ao normal. Então, muito feliz, o galo tornou a cantar:
- Có-có-ró-có-cóóóó!
A avó Lurdes até bateu as palmas de contente!
E, no dia seguinte, ao nascer do sol, lá estava o Galo empoleirado no muro, orgulhoso, como nunca estivera, a acordar toda a vizinhança.
- Có-có-ró-có-cóóóó! Có-có-ró-có-cóóóó!
Foi uma manhã de festa no quintal da avó Lurdes!
E o senhor Galo, passou a ser muito amigo das cinco senhoras galinhas!

Maria Manuela Amaral

sábado, 2 de abril de 2011

“O FOGÃO VAIDOSO”


Era uma vez um fogão grande, bonito e muito vaidoso. Estava exposto numa loja de electrodomésticos entre outros fogões, frigoríficos, esquentadores e outros artigos para a cozinha. Um dia, entrou na loja um cliente que se interessou pelo fogão vaidoso. Mexeu-lhe nos botões, levantou a tampa, abriu a porta do forno para ver se estava tudo bem. Porém, o fogão não gostou nada que lhe fizessem aquilo.
- “Esteja quieto! Não vê que me está a incomodar?” – refilou.
O cliente aproximou-se do dono da loja e disse estar interessado em comprar aquele fogão. O Sr. Júlio ficou muito contente e até fez um desconto no preço e transportou o fogão para dentro do carro.
- “Adeus colegas, vou-me embora! Já estava cansado de estar sempre no mesmo sítio.”
Em casa do novo dono instalaram-no na cozinha que era muito bonita, cheia de sol! O Sr. José foi buscar um tubo de borracha e ligou-lho na parte de trás, apertando-o com uma anilha.
- “Ai, isto dói! Para que será este tubo?”
- Já está, podes começar a cozinhar no teu novo fogão – disse o Sr. José sorridente, para a esposa.
- “Cozinhar? Em mim? Nem pensem, não vou deixar.”
A Dona Matilde ligou o botão, acendeu um fósforo mas o bico não acendeu. Experimentou os quatro bicos e nenhum deles dava lume.
- Como vou eu cozinhar se os bicos não acendem? – queixou-se ela.
O Sr. José foi verificar se estava tudo bem instalado.
- Não percebo o que se está a passar. A instalação está bem-feita, a bilha do gás está aberta, não compreendo porque é que ele não trabalha.
- “Nem pensem cozinhar nos meus bicos novos! Para eu ficar todo cheio de gordura e a cheirar a fritos? Nem pensar…”
O marido da Dona Matilde telefonou para o dono da loja e pediu-lhe que fosse lá a casa ver o que se passava.
- Realmente é muito estranho, não entendo porque é que ele não funciona. – exclamou o Sr. Júlio, admirado.
- Para que quero eu um fogão se não posso cozinhar nele?
- Tens razão Matilde. Olha, vamos vendê-lo ao ferro velho e comprar outro.
- “Ferro velho, eu? Deixam-me ao sol e à chuva, vou ficar todo enferrujado! Não, não me levem para lá, por favor!”
O Sr. Júlio abriu o forno e espreitou lá para dentro. Depois, voltou a verificar o tubo e se a anilha estava bem apertada.
- “ Acendam-me, vá lá. Prometo que deixarei passar o gás!
- Esperem, vou experimentar outra vez – disse o dono da loja acendendo um fósforo.
E ao ligar um botão eis que surge uma chama azul num dos bicos do fogão vaidoso.
Todos sorriram aliviados.
A Dona Matilde, quando terminava de cozinhar limpava-o muito bem, não lhe deixando um bocadinho de gordura e ficava com um cheirinho a alfazema.
-“Sou muito feliz nesta nova casa e a minha dona deixa-me sempre limpo e muito brilhante!”

Maria Manuela Amaral

segunda-feira, 28 de março de 2011

O COELHO MÁGICO DA LÂMPADA ESPACIAL



A Teresa encontrou no jardim da sua casa um objecto redondo, muito brilhante, apoiado em três pés. Nunca vira nada igual! O que seria aquilo?
Aproximando-se devagar, tocou-lhe com a ponta dos dedos. Imediatamente se acenderam todas as luzes ao mesmo tempo que, surgia uma abertura no cimo do objecto. Teresa retirou a mão assustada. De dentro da abertura ergueu-se um coelho, porém não era um coelho normal. Vestia um fato dourado e em vez de orelhas tinha duas antenas.
- Quem és tu? O que fazes aqui no meu jardim? - perguntou a Teresa, tomada de enorme curiosidade.
- Eu sou o Coelho Mágico, oriundo do planeta Alpha. E esta é a minha lâmpada espacial - apontou para o objecto - Pede o que desejares, um desejo teu será uma ordem para mim!
- Satisfazes os desejos das pessoas? - perguntou surpreendida.
- Só os das crianças! - respondeu orgulhoso.
Ela olhou-o, pensativa.
- E posso pedir o que eu quiser?
- Claro, pede o que mais desejares!
A Teresa fechou os olhos com muita força e pensou num desejo.
- Quero que a fome acabe para todas as crianças do Mundo!
Uma luz vermelha acendeu-se no peito do coelho mágico, deixando-o embaraçado.
- Lamento, mas não tenho esse desejo programado. Terás que pedir outro.
- Mas tu disseste para pedir o que mais desejasse! - protestou, aborrecida.
- Tens razão, mas esse pedido não está no meu programa. Peço desculpa.
Teresa tornou a fechar os olhos pensando noutro desejo.
- Quero a paz para o Mundo inteiro!
De novo, a luz vermelha acendeu-se no peito do Coelho Mágico.
- Parece-me que este teu desejo também não está no meu programa - proferiu constrangido.
- És um mentiroso! Nem és mágico, nem a tua lâmpada é espacial e se calhar nem existes!
Furioso, o Coelho deu três pulos e respondeu:
- Não digas isso! Eu sou o Coelho Mágico da Lâmpada Espacial e até hoje tenho concretizado os desejos de muitas crianças!
- Ai, sim? Então porque é que não concretizaste os meus? – perguntou ela quase a chorar.
-Porque aqueles que me pediste são desconhecidos do meu programa. Peço desculpa.
Teresa sentou-se na relva, cruzou as pernas e limpou as lágrimas.
- Então diz-me: que desejos te pediram as outras crianças? O Coelho Mágico sorriu largamente.
- Pediram-me brinquedos, doces, bicicletas, computadores… Uma delas até me pediu uma Asa Delta!
Ela abraçou as pernas apoiando o queixo sobre os joelhos e disse:
- Mas para se ter tudo isso não é necessário recorrermos à magia.
Basta termos dinheiro!
- É verdade… - respondeu ele – mas para que os teus desejos se concretizem também não é necessária a magia. Bastará haver um pouco de boa vontade entre os Homens!

Maria Manuela Amaral

OUTRAS HISTÓRIAS

NA QUINTA DO TIO TOMÁSIO - O GATO HIPÓLITO


Na quinta do tio Tomásio vivia um gato chamado Hipólito de pêlo castanho-escuro e olhar matreiro, esverdeado. Alguns animais não gostavam dele, achavam-no muito insolente e preguiçoso. A sua melhor amiga era a raposa Espertalhona, juntos inventavam mil e uma travessuras só para arreliarem os outros animais.
Um dia, o tio Tomásio foi dar uma arrumação ao celeiro que bem precisava de ser limpo e arrumado e dentro de um velho armário pintado de verde encontrou uma antiga gaiola de alumínio. Como sabia que o canário Amarelo tinha a dele já muito estragada perguntou-lhe se queria aquela.
- Quero, quero! – afirmou o canário, entusiasmado.
- É antiga mas está em bom estado. Eu pinto-a da cor que tu mais gostares e vai ficar bem bonita.
- Muito obrigado, tio Tomásio, estava mesmo a precisar de uma gaiola nova. Gostava que ficasse toda branquinha!
No dia seguinte, o dono apareceu com a gaiola toda pintadinha de branco, abriu a porta e disse, satisfeito:
- Já aqui tens a tua casa nova, Amarelo. Anda, entra!
O Amarelo ficou encantado, tinha comedores e bebedores novos também! E lá ficou pendurada num dos troncos do castanheiro que ficava à entrada da quinta. E o canário cantava, cantava o dia inteiro, muito feliz.
Dias depois, o gato Hipólito ao passar por ali viu o Amarelo à porta da gaiola.
- Olá, então agora tens uma casa nova, Amarelo?
- Tenho! Agora já não me poderás aborrecer, estou mais alto, vês? – e saltou para o poleiro.
- “Isso é o que julgas…” – pensou o gato, manhoso. Fingindo que se afastava, deu a volta ao castanheiro e sentou-se a pensar. Havia de descobrir uma maneira de subir até à gaiola. Um dos seus maiores prazeres era assustar o pobre do canário Amarelo.
- Já sei! Vou pedir ajuda à raposa.
E ela disse-lhe:
- É preciso uma escada, só com uma escada conseguirás chegar à gaiola.
- Boa ideia, raposa! Como é que eu não pensei nisso?
- Ora, porque não és inteligente como eu! – respondeu a raposa, vaidosa.
- E tu tens a mania que és muito esperta, não tens? – zangou-se o gato.
Começaram a discutir.
- Agora já não quero a tua ajuda para nada. Adeus!
E virou costas, muito arreliado.
Pelo caminho pensava onde iria encontrar uma escada que tivesse muitos degraus. A capoeira das galinhas ficava mesmo ao lado do castanheiro, por baixo da gaiola do Amarelo. O gato Hipólito pôs-se a olhar e sorriu olhando para cima.
- Vai ser uma grande brincadeira e um valente susto que vou pregar ao Amarelo.
Correu para o celeiro e depois de muito procurar encontrou uma escada muito alta e pesada. Nunca iria conseguir tirá-la do celeiro, sozinho.
- Que maçada! A quem hei-de pedir ajuda? À raposa, não! Talvez peça ajuda ao burro Anacleto, ele é tão burro que não vai desconfiar de nada! Boa!
O burro olhou-o espantado.
- Colocar uma escada em cima da capoeira das galinhas?
- Sim, ajudas-me?
- Mas para que queres tu uma escada em cima da capoeira? – perguntou o Anacleto que não era tão burro como o gato pensava.
- É para fazer uma surpresa ao Amarelo. A minha intenção é boa, não te preocupes! – garantiu.
- Que género de surpresa? – perguntou o burro desconfiado.
- Já me estás a aborrecer com tantas perguntas! Ajudas-me ou não?
- Antes terás que me dizer para que queres a escada. – insistiu o Anacleto.
- Eu não tenho que te dizer nada! Adeus! – e afastou-se furioso.
- “A mim não me enganas tu…” - pensou em voz alta o Anacleto.
Entretanto, o gato sentou-se na relva do jardim, desanimado.
- Tenho que encontrar alguém que me ajude, mas quem?
A raposa avistou-o e aproximou-se dele.
- Então, já encontraste alguma escada, Hipólito?
- Já, mas não tenho quem me ajude a colocá-la em cima da capoeira das galinhas.
- Bem, se quiseres posso ajudar-te… - ofereceu-se a raposa.
O gato olhou para ela e pensou que não tinha mais ninguém.
- Aceito a tua ajuda se não me aborreceres com os teus ares de espertalhona!
A raposa sorriu abanando o rabo farfalhudo.
- Está bem. Agora mostra-me onde está a escada.
- Está no celeiro, anda!
Enquanto isso, o Anacleto desconfiado das boas intenções do gato Hipólito, foi falar com o tio Tomásio.
- Uma escada? E para que quer ele uma escada? - perguntou o dono da quinta.
- Não me quis dizer, mas eu julgo que seja para assustar o canário Amarelo.
- Eu tiro-lhe a mania de andar a pregar sustos ao Amarelo! Um dia destes ainda o expulso da quinta! – proferiu o tio Tomásio, zangado. – Vamos lá fora ver o que se está a passar.
Tendo o cuidado de não se aproximarem demasiado do castanheiro, viram o gato Hipólito ajudado pela raposa Espertalhona a colocarem a escada em cima da capoeira das galinhas.
- Logo à noite, quando todos estiverem a dormir vamo-nos divertir tanto, Espertalhona! – dizia o gato.
O tio Tomásio moveu a cabeça, afirmativamente.
- Nem imaginas como te vais divertir, gato manhoso! – sussurrou.
Quando o Sol se escondeu dando lugar à Lua o Anacleto foi colocar um alguidar com água gelada ao lado da escada. Depois, dirigiu-se à casa da raposa Espertalhona.
- O tio Tomásio quer falar contigo, raposa.
- Comigo? Mas porquê?
- Não sei, é melhor vires comigo – aconselhou o Anacleto.
“Será que ele desconfia de alguma coisa?” – pensou ela assustada – “o tio Tomásio quando se zanga não é para brincadeiras”.
Já em casa do dono da quinta, ele começou a fazer-lhe perguntas.
- Ora diga-me lá, Dona raposa: a que horas combinou encontrar-se com o seu amigo gato?
A raposa atirou um pulo!
- Como é que o tio Tomásio sabe? – defendeu-se, aflita – Eu não tenho culpa de nada, ele é que me obrigou…
- A que horas, raposa? – insistiu o Anacleto.
- Ele deve estar a chegar, não sei…
O tio Tomásio levantou uma ponta da cortina da janela da sala. Lá estava ele a passear de um lado para o outro, impaciente.
- Onde se teria metido a raposa? Já cá devia de estar, eu bem sabia que não podia confiar nela! – resmungou.
- Anacleto, já sabes o que tens a fazer – disse o tio Tomásio.
A raposa perguntou baixinho:
- O que é que vocês vão fazer?
- Já vais ver, raposa.
Lá fora, o Hipólito ficava cada vez mais impaciente.
- Não espero mais pela raposa! Quem me manda confiar naquela mentirosa? – e começou a subir a escada.
Quando estava quase a alcançar a gaiola do canário Amarelo, o Anacleto começou a abanar a escada.
- Ai, quem está a abanar a escada? És tu raposa malvada? Ai, ai que eu caio!
Por fim, desequilibrou-se e caiu dentro do alguidar onde estava a água gelada.
- Socorro! Eu não sei nadar, ajudem-me! A água está gelada, socorro!
O Amarelo que adormecera cedo, acordou sobressaltado.
- Que barulheira é esta? – perguntou ainda ensonado.
O tio Tomásio tirou o gato Hipólito do alguidar e repreendeu-o, severamente.
- Não tens vergonha de estares sempre a assustar o canário Amarelo? Que este banho gelado te tenha servido de lição! Da próxima vez, o castigo será maior.
- Ai, que vergonha… Atchim…atchim… Sua traidora! – acusou, olhando para a raposa.
- Não foi ela – riu o Anacleto – fui eu que avisei o tio Tomásio. Pensavas que eu era burro? Sou burro mas sou inteligente.
- Fiquem sabendo que não hesitarei em expulsar os dois se insistirem com as vossas diabruras, ouviram? A Dona raposa já devia saber comportar-se desde aquela noite em que foi roubar amoras! – ralhou o dono da quinta.
Ela encolheu-se a um canto, envergonhada.
E o gato Hipólito com o pêlo eriçado e gelado até aos ossos tremia muito e espirrava ainda mais.
- Atchim…atchim…
O Amarelo voou para o ombro do tio Tomásio e acusou:
- Com que então querias assustar-me, não era? Bem feito!
O gato respondeu-lhe de mau humor:
- Não me aborreças!
Meteu o rabo entre as pernas e foi para casa a tremer e a espirrar.
- Atchim! Atchim…atchim…
Não parou de espirrar durante dois dias. Embrulhado num cobertor, com as patas traseiras mergulhadas numa bacia com água quente, o gato Hipólito jurou que nunca mais se envolveria em outra confusão.

Maria Manuela Amaral

sexta-feira, 18 de março de 2011

NA QUINTA DO TIO TOMÁSIO - O ENSAIO


O tio Tomásio tinha no seu quintal uma capoeira com seis galinhas. Cada uma delas punha dois ovos, por dia. Com os doze ovos diários que recolhia, todas as manhãs, para dentro de uma cesta de verga a sua esposa, Dona Antónia, fazia deliciosos bolos juntando açúcar e farinha e fruta. Guardava os restantes ovos em caixas de papelão.
De dois em dois dias, o tio Tomásio mudava-os para a cesta de verga e ia vendê-los à feira. Com o dinheiro da venda comprava outros alimentos que lhes eram necessários.
Certo dia, quando a Dona Antónia estava a amassar um dos seus bolos ouviu um cão a ladrar lá fora. Desviou a cortina da janela da cozinha para ver o que se passava. “Ora esta!” – resmungou.
O cão estava a ladrar mesmo em frente à capoeira das suas galinhas e estas esvoaçavam assustadas, de um lado para o outro.
- Có-có-ró-có! Có-có-ró-có!
O tio Tomásio que estava a tratar da horta, foi a correr ver o que se passava e quando viu o cão que continuava a ladrar de um modo muito estranho, disse:
- Ó Doc, não ladres aqui junto das minhas galinhas, não vês como estás a assustá-las? Assim, elas nem põem os ovos que me fazem tanta falta. Pára de ladrar!
O cão olhou-o muito aborrecido e protestou:
- Está bem, pronto! Eu vou-me embora, mas que maçada!
As galinhas sossegaram e a Dona Antónia continuou a amassar o bolo, abanando a cabeça.
No dia seguinte, eram sete horas da manhã, lá andavam as galinhas alvoroçadas, de novo, dentro da capoeira.
- O que será agora? – inquiriu o dono da quinta olhando para a esposa.
- Escuta! – disse ela – não ouves um gato a miar?
Ele dirigiu-se ao quintal e não era que estava mesmo um gato a miar sentado num banco, virado para a capoeira?
- Mas que ousadia! – pensou o tio Tomásio indignado.
Aproximou-se do gato e disse-lhe de mau humor:
- Ouve lá, não podes ir miar para outro lado? Não vês que estás a espantar as minhas galinhas? Sai já daí!
O animal olhou-o esticando o pescoço e respondeu orgulhoso com o pêlo todo eriçado:
- Eu não sou um gato! O senhor não sabe reconhecer uma verdadeira gata? Em segundo lugar, as suas galinhas são umas parvas e ignorantes porque não sabem admirar o valor de uma grande artista!
Dizendo isto, saltou para o chão com muita elegância e afastou-se com o rabo no ar, altiva.
O tio Tomásio cruzou os braços e resmungou:
- Não querem lá ver isto? Mas agora é todos os dias a espantarem as minhas frangas com cantorias estranhas, ora esta!
Quando entrou em casa encontrou a Dona Antónia a rir-se.
- O que é que foi, mulher?
- Com que então o meu Tomásio não sabe reconhecer uma verdadeira gata, hem? – brincou, rindo à gargalhada.
- Não brinques com coisas sérias – refilou, não achando graça nenhuma.
Após três dias, quando estavam a merendar sentados na sala de jantar, ouviram um lobo a uivar. Levantaram-se a correr e foram espreitar à janela. O tio Tomásio olhou para a esposa e exclamou:
- Ai mulher, que estamos bem arranjados da vida! Desta vez, o caso é mais sério.
- O que é que foi? Daqui não consigo ver, só oiço um uivar estranho.
- Pois é isso mesmo, Antónia, está um lobo a uivar mesmo ao lado da capoeira das nossas galinhas!
- E agora, o que vamos fazer? – perguntou ela assustada.
- Vou lá fora tentar convencê-lo a ir-se embora.
- Tem cuidado que ele pode ficar furioso, homem! Uiva de uma forma tão esquisita que só de o ouvir fico toda arrepiada!
O tio Tomásio pegou no chapéu e saiu para o quintal. Nesse instante, reparou que eram dois lobos. Desta vez, as galinhas estavam encolhidas a um canto da capoeira e nem o bico abriam.
O dono aproximou-se dos lobos, devagarinho.
- Boa tarde Lobos, eu queria pedir-lhes o favor de não comerem as minhas galinhas. Elas fazem-me tanta falta.
Porém, os lobos pareciam que nem o tinham ouvido e continuaram a uivar como se a presença do dono da quinta lhes fosse indiferente.
- Se vocês insistirem em levar os meus animais eu serei obrigado a defender-me! – gritou o tio Tomásio, desesperado.
Os lobos calaram-se, olharam um para o outro e sorriram.
- Mas quem é que lhe disse que nós queremos levar as suas galinhas? – perguntou um deles.
- Nós não estamos aqui para fazer mal a ninguém. – exclamou o outro.
O dono da quinta olhou para eles sem perceber nada. Se não queriam as suas aves o que estariam ali a fazer, uivando daquela maneira? Uma delas ouvindo o que os lobos disseram acercou-se da rede da capoeira, cautelosa.
- Mas então…afinal, o que querem daqui? - perguntou intrigado.
- É melhor explicar tudo. – disse um dos lobos.
- Claro, concordo – respondeu o outro – senão ele pensará que somos esses animais cruéis que as pessoas dizem que somos.
O tio Tomásio olhava-os desconfiado.
- Vamos explicar tudo. Daqui a dois dias haverá uma grande festa na quinta para festejar o aniversário da Dona Cegonha. E como nós fazemos parte do coro, estamos a ensaiar as nossas músicas, percebe?
- Uma festa na quinta? – perguntou boquiaberto – Mas então…agora percebo porque é que nos últimos dias estiveram aqui uma gata e o Doc a cantar…
Os lobos sorriram, entusiasmados.
- São os dois artistas principais da festa! Não sabíamos que eles também tinham vindo ensaiar para o seu quintal.
- Pois vieram, mas eu mandei-os embora porque assustaram as minhas aves e elas deixaram de pôr os ovos que me fazem tanta falta!
As galinhas juntaram-se todas ao pé da rede da capoeira a ouvir a conversa, muito felizes porque ia haver uma festa na quinta.
- Nesse caso, pedimos desculpa – disse um dos lobos – não sabíamos que estávamos a prejudicá-lo. Sendo assim, vamos ensaiar para outro lado.
- Obrigado pela vossa compreensão – agradeceu o tio Tomásio – prometo-vos que no dia da festa a minha esposa fará um grande bolo para oferecerem à vossa amiguinha Cegonha. Mas terão que vir buscá-lo.
- Muito obrigado, é muito simpático. E também podem vir à festa!
As galinhas deram pulos de alegria.
- Sim! Sim! Sim, tio Tomásio! Podemos ir?
- Vou pensar no assunto – prometeu o tio Tomásio a sorrir enquanto os lobos se afastavam, satisfeitos.
Quando o dia da festa chegou os animais deliciaram-se com um grande bolo de laranja que a Dona Antónia tinha confeccionado de véspera.
Colocaram-no no centro da mesa feita de folhas secas, enfeitada com pinhões e avelãs e todos juntos cantaram os “Parabéns a você” à Dona Cegonha que até chorou de felicidade.
Nunca tivera uma festa de Aniversário tão bonita!

Maria Manuela Amaral

quarta-feira, 16 de março de 2011

NA QUINTA DO TIO TOMÁSIO - A RAPOSA E AS AMORAS


Na quinta do tio Tomásio viviam muitos animais. Entre eles, a raposa Espertalhona que comia toda a qualidade de fruta que havia no pomar. Era tão gulosa que não deixava muito por onde escolher, para os outros animais! Um dia, o coelho Saltitão avisou-a:
- Isto não pode continuar, raposa!
Porém, ela olhou-o com ares de grande Espertalhona e respondeu:
- Ora, que culpa tenho eu se os outros animais não gostam de todas as frutas? Hum, não sejam esquisitos!
Dizendo isto virou costas ao coelho Saltitão, deixando-o tão zangado que ele decidiu ir falar com o tio Tomásio e contar-lhe tudo o que se estava a passar. O tio Tomásio ficou furioso com o que ouviu e decidiu ter uma longa conversa com a raposa Espertalhona.
- Por isso, raposa… - dizia – ficas a saber que só poderás comer fruta de três árvores que te vou dar a escolher!
- Três árvores só para mim???
- Sim, só para ti. Isto é para evitar que prejudiques a alimentação dos outros animais.
E a raposa Espertalhona escolheu logo três árvores da fruta que ela mais gostava: um pessegueiro, uma pereira e uma macieira. A partir desse dia ela só comia fruta daquelas três árvores. Mas para quem estava habituada a comer fruta de toda a qualidade e sempre que lhe apetecia, depressa se sentiu enjoada de pêssegos, peras e maçãs. Então o que é que decidiu fazer? Já vão ver…
Ao passar perto da amoreira do Sedoso, um jovem bicho-da-seda, não resistiu e comeu algumas amoras.
- Hummmm…são tão docinhas!
Receando que algum dos outros animais a surpreendesse, pensou que seria mais prudente ir lá de noite. E até podia levar um prato cheio de amoras para o pequeno-almoço do dia seguinte.
- Ah, ah, ah…Sou mesmo muito esperta, não acham?
E se bem o pensou, melhor o fez!
Na manhã do dia seguinte, o coelho Saltitão encontrou-a quando se dirigia para o lago.
- Bom dia!
- Olá coelhinho, dormiste bem?
- Sim dormi, obrigado. E a Dona raposa? – perguntou ele estranhando tanta simpatia. Ela era sempre tão antipática.
- Muito bem, muito bem. Adeus coelhinho – despediu-se a sorrir.
“Que esquisita está hoje a raposa e cheira a qualquer coisa… O focinho dela está negro. Muito esquisito mesmo.” - pensou o coelho Saltitão.
Encolheu os ombros e continuou o seu caminho, passando pela casinha do bicho-da-seda.
- Bom dia, Sedoso! – cumprimentou o amigo com alegria.
- Bom dia, Saltitão. Se bem que, para mim, o dia não está a começar nada bem…
- Então, o que aconteceu? – perguntou o amigo coelho.
- Quando fui tomar o pequeno-almoço vi que alguém, durante a noite, comeu muitas amoras da minha árvore não me deixando quase nada – queixou-se, quase a chorar.
- Quem teria feito uma coisa dessas?
- Não sei…talvez desconfie, mas é melhor calar-me porque posso estar errado – disse o Sedoso.
O coelho coçando uma orelha, pensou em voz alta:
- Parece-me que sei quem foi. Há poucos minutos encontrei a raposa e estava muito esquisita. De certeza que foi ela!
- Bem, para dizer a verdade também acho que foi, mas não queria…
- Sedoso! – interrompeu o amigo – vou falar com o tio Tomásio sobre isto mas não contes a ninguém, sim? Havemos de descobrir!
- Está bem, não direi nada. Obrigado!
Em casa do tio Tomásio o Saltitão contava-lhe o sucedido.
- Mas isso é uma coisa muito feia! Tens a certeza que foi a raposa? – perguntou, muito aborrecido.
- A certeza não posso ter porque não vi, mas que ela cheirava a amoras, lá isso cheirava. Disso eu tenho agora a certeza.
O tio Tomásio, de mãos atrás das costas, dava grandes passos na sala, furioso. De súbito, parou e disse:
- Vou castigar, severamente, o autor desta astúcia com uma astúcia ainda maior. Preciso da tua ajuda, Saltitão, esta noite iremos descobrir quem foi o intruso.
- Sim senhor, pode contar comigo!
E nessa noite, o tio Tomásio disfarçado de fantasma escondeu-se atrás de uns caixotes, perto da amoreira, acompanhado do Saltitão que sabia o que tinha que fazer.
Era quase meia-noite quando viram uma sombra a aproximar-se da árvore. Lá vinha a raposa Espertalhona! O tio Tomásio virou-se para o coelho e perguntou baixinho:
- Sabes o que tens a fazer, não sabes?
- Sei sim! Ai, que me vou fartar de rir!
E quando a raposa se preparava para comer as amoras, o tio Tomásio sem fazer ruído, foi-se aproximando dela. Vestido com um lençol branco até aos pés e de braços estendidos, estava mesmo assustador. Entretanto, o Saltitão atrás dos caixotes gritava “uh…uh…uh…” imitando um fantasma.
- Ai! – assustou-se a raposa – o que…o que é isto?
- Sou o fantasma do Reino dos Fantasmas e venho castigar-te pelo mal que estás a fazer aos teus amigos da quinta. São ordens da Rainha Caveira!
- Ra…rainha Ca…ca…caveira? Socorro! Ai, que medo, socorro! Por favor, não me castigues! – pediu a raposa encolhendo-se a um canto, aterrorizada.
- “Uh…uh…uh…” Só há uma maneira de seres perdoada.
- Ai, qual…qual é? Diz-me…farei tu…tudo o que qui…quiseres.
A raposa tremia apavorada com a possibilidade de ser levada para o Reino dos Fantasmas.
- Terás que ir a casa do dono da quinta e pedir-lhe desculpa por andares a comer a fruta que não te pertence.
- Ai…mas eu…eu não posso fazer isso porque ele não sabe que vim comer as amoras do Sedoso. E já ontem vim, também. Ai…ai…que eu não…não posso fazer o que me pe…pedes…
- Uh…uh…uh…
- Ai, acudam-me! Socorrooooo!
- Então, vens comigo à presença da Rainha Caveira! – ameaçou o vozeirão do tio Tomásio.
- Nãooooo! Por…por favor, isso não! Está…está bem, irei confessar a minha traição a casa do dono da quinta, ao nascer do Sol, prometo! Agora, deixa-me ir emboraaaaaa!
- Vai traidora! E cumpre a tua promessa porque se me enganares virei buscar-te a casa!
- Não…não te enganarei…não…
E a raposa afastou-se a correr olhando, constantemente, para trás com muito medo de ser perseguida até que tropeçou numa pedra o que a deixou em pânico.
- Ai…ai…ai que medo! Socorro!
O Saltitão riu-se tanto que até ficou com dores de barriga.
No dia seguinte pela alvorada lá estava a raposa a bater à porta do tio Tomásio.
- Bom dia, Dona Espertalhona, entre. Veio visitar-me tão cedo?
- Quer dizer, não é bem uma visita, sabe… – começou a explicar – é que…que eu…queria confessar uma coisa muito feia que fiz…
- Uma coisa muito feia? – perguntou o tio Tomásio como se de nada soubesse – Muito bem, então diz lá o que foi.
- Bem…é que …que eu comi amoras da árvore do Sedoso. Quer dizer…só comi algumas… Prometo que nunca mais voltarei a comer a fruta dos outros animais da quinta!
- O quê? Mas é, realmente, uma coisa muito feia! – repreendeu o dono da quinta.
- Estou muito arrependida, tio Tomásio! Estou…estou. Perdoe-me, por favor!
O tio Tomásio coçou a cabeça, fingindo que pensava no que havia de fazer e, por fim, declarou:
- Se estás arrependida, desta vez, perdoo-te. Mas se voltar a acontecer és expulsa da quinta, ouviste?
- Obrigado, obrigado. Não voltará a acontecer, pode ter a certeza!
- Muito bem. E agora diz-me lá porque me vieste confessar a tua deslealdade.
A raposa corou e baixou os olhos, envergonhada. Não teve coragem de lhe contar que quase tinha morrido de susto ao ser ameaçada por um fantasma. Ela passava a vida a dizer que não tinha medo de nada…
- É que…o tio Tomásio tem sido tão bom para mim…
- Vai-te lá embora e porta-te bem daqui em diante – avisou-a.
E a raposa Espertalhona foi-se embora muito humilhada.

“Quem muito esperto se julga, mais enganado é!”

Maria Manuela Amaral