quinta-feira, 7 de abril de 2011

O BANQUINHO VELHO


Um dia, a mãe Helena decidiu fazer uma arrumação no quarto do seu filho Nuno. Alguns brinquedos já estavam tão velhos que ela não hesitou em levá-los para o sótão. Entre eles estava um velho banquinho de madeira que tinha uma perna partida e a mãe do Nuno substitui-o por uma cadeirinha nova, pintada de branco. Mas o Nuno sentia tantas saudades do seu velho banquinho! E este, também sentia muitas saudades do menino.
Fechado no sótão da casa, que era escuro e muito frio, o banquinho sentiu-se abandonado para sempre, entre aqueles grandes baús e teias de aranha. Triste com o destino que a mãe Helena lhe dera, pensou em fugir dali. Mas teria que esperar por um dia em que não estivesse ninguém em casa.
E num domingo de manhã a família saiu para um passeio, iam fazer uma caminhada pela serra de Sintra. Então, o banquinho velho abriu a porta do sótão, desceu as escadas coxeando e dirigiu-se para a sala de jantar. Lá estava a lareira no mesmo sítio. Ao lado, onde ele começara por ficar, no tempo do pai João, estava agora uma cadeira de baloiço. Mais tarde, o Nuno nasceu e o seu lugar passou a ser ao lado da caminha dele. A coxear, foi ao quarto do menino, viu a cadeirinha branca e pensou tristemente:
- Aqui já não há lugar para mim…
Foi ao jardim, olhando em redor tentando descobrir um sítio onde pudesse ficar sem que ninguém o visse.
- Já sei, ali atrás dos malmequeres é um bom esconderijo!
Todos os dias à tarde durante a sesta da mãe Helena, o banquinho saía do seu refúgio e brincava na relva muito contente. Rebolava, dava cambalhotas…
Um dia, porém, a mãe do Nuno foi regar os malmequeres com uma mangueira muito comprida que havia no jardim e imaginem qual não foi o seu espanto ao ver o banquinho velho no meio das flores!
- Que estranho! – exclamou baixinho – quem o terá trazido para aqui? Devem ser coisas do Nuno…
E voltou a guardá-lo no sótão.
- Que má sorte a minha! – queixou-se o banquinho quase a chorar.
Quando a família se reuniu ao jantar, a mãe perguntou ao Nuno:
- Foste tu que trouxeste o teu banco velho para o jardim, filho?
- Eu não, mãe! Mas porque me fazes essa pergunta?
- Porque eu encontrei-o lá quando fui regar os malmequeres, esta manhã. – respondeu a mãe.
- Que estranho… - disse o pai João, pensativo.
- Foi o que eu pensei – respondeu a mãe Helena, piscando um olho ao marido.
Entretanto, o velho banquinho passou a noite toda a lamentar-se.
- Nunca mais poderei sair daqui. O sótão é tão frio e cheira tanto a bafio…
O tempo foi passando. Um dia, a família voltou a sair para fazer um piquenique no campo, num domingo de calor. E o banquinho aproveitou a ocasião para voltar a fugir do sótão. Procurou por toda a casa um sítio seguro para se esconder e decidiu ficar atrás do sofá grande, na sala da lareira.
- Aqui, a mãe Helena não me vê!
Todas as noites, ele espreitava a sala e via o pai João sentado na sua cadeira de baloiço a ler o jornal, a mãe Teresa a fazer a fazer tricô e o Nuno a jogar Playstation ou a ver televisão. Sentia-se tão feliz! Fazia, novamente, parte da família. Há mais de um mês que estava ali escondido e ninguém o tinha descoberto!
Porém, na semana seguinte, a mãe Helena resolveu mudar os móveis da sala.
- Ai que lá vou eu para o sótão, outra vez! – pensou o banquinho angustiado.
A mãe do menino mudou a mesa para ali, a televisão para acolá, o móvel mais para trás e quando afastou o sofá grande para a frente lá estava o banquinho velho encostado à parede.
- Ora esta! Novamente fora do sótão?
Cruzou os braços sorrindo e pensou alto:
- Isto só pode ser coisa do Nuno, de certeza absoluta! Ele gosta tanto deste banco…
Olhou para o banquinho, mirou-o muito bem, pegou nele dando-lhe muitas voltas até o deixar tonto e, por fim, disse:
- Já sei! Vou fazer uma surpresa ao Nuno.
Foi ao sótão e trouxe cola, um martelo, alguns pregos, um pincel e umas latinhas de tinta. Levou o banquinho para o jardim e colou-lhe a perna partida. Com o martelo pregou-lhe dois pregos para ficar bem segura.
- Ui…ai…isto dói…ui – queixava-se o banquinho, contudo, muito feliz por estar a ser arranjado.
No fim, a mãe do menino pintou-o todo de azulinho e pô-lo a secar ao sol. Algumas horas mais tarde, levou-o para o quarto do filho e colocou-o ao lado da cadeirinha branca.
- Hoje, quando o Nuno chegar da escola terá uma agradável surpresa! – exclamou satisfeita com o seu trabalho.
E o banquinho velho deixou de ser velho e coxo para se transformar num novo e bonito banquinho. Estava tão contente!
- Ufa, já era tempo da mãe Helena reparar em mim!

Maria Manuela Amaral

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