quinta-feira, 7 de abril de 2011

O GALO QUE PERDEU A VOZ


A avó Lurdes tinha um grande quintal com vastos canteiros de rosas, algumas árvores de fruta, uma capoeira com cinco galinhas e um galo. Três galinhas eram castanhas e duas eram branquinhas. Mas o galo, não. Tinha belas penas castanhas avermelhadas e uma soberba crista vermelha, que faria inveja a qualquer outro galo.
Todos os dias, ao nascer do sol, orgulhoso da sua voz, o galo cantava assim:
- Có-có-ró-có-cóóóó!
As galinhas costumavam discutir, entre si, para ver qual delas lhe agradava mais. Mas ele, arrogante e presunçoso, não mostrava preferência por nenhuma e passeava-se na capoeira com ares de grande senhor Galo.
Porém, um dia, toda aquela vaidade terminou. E porquê? Porque o senhor Galo perdera o seu cacarejar. Pois foi… Assim, de um dia para o outro. Coitado, já nem parecia o mesmo. Sempre cabisbaixo e de mau - humor. As pobres galinhas passavam o dia inteiro encolhidas a um canto da capoeira, pois ele implicava com elas por tudo e por nada! Bonito serviço!
A avó Lurdes não sabia o que fazer.
- Isto assim não pode continuar! – queixava-se ela – O galo não canta e, ainda por cima, passa o dia a picar as galinhas! Que hei-de eu fazer?
Depois de muito pensar, tomou uma decisão. Foi à capoeira e trouxe o galo preso pelas asas, cá para fora.
- Tenho muita pena, mas já não me serves para nada. – Disse, pegando numa faca.
O galo olhou, assustado, para a avó Lurdes.
- “ Para que quer ela esta faca? “ – pensou, aterrorizado.

Vocês calculam o que a avó Lurdes ia fazer? Ora pensem lá… Isso mesmo! Decidiu transformar o galo numa apetitosa canja. Vocês gostam de canja, não gostam?

Pois é, mas quando a avó Lurdes se preparava para lhe cortar o pescoço, ele apavorado, esperneou tanto e com tanta força que, por fim, conseguiu soltar-se das mãos da dona. Pulou o muro do quintal e fugiu espavorido, até ter certeza de estar a salvo!
E há males que vêem por bem, senão vejam…
A aflição fora tamanha que, após algumas horas, o seu belo cantar voltara ao normal. Então, muito feliz, o galo tornou a cantar:
- Có-có-ró-có-cóóóó!
A avó Lurdes até bateu as palmas de contente!
E, no dia seguinte, ao nascer do sol, lá estava o Galo empoleirado no muro, orgulhoso, como nunca estivera, a acordar toda a vizinhança.
- Có-có-ró-có-cóóóó! Có-có-ró-có-cóóóó!
Foi uma manhã de festa no quintal da avó Lurdes!
E o senhor Galo, passou a ser muito amigo das cinco senhoras galinhas!

Maria Manuela Amaral

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