segunda-feira, 28 de março de 2011

NA QUINTA DO TIO TOMÁSIO - O GATO HIPÓLITO


Na quinta do tio Tomásio vivia um gato chamado Hipólito de pêlo castanho-escuro e olhar matreiro, esverdeado. Alguns animais não gostavam dele, achavam-no muito insolente e preguiçoso. A sua melhor amiga era a raposa Espertalhona, juntos inventavam mil e uma travessuras só para arreliarem os outros animais.
Um dia, o tio Tomásio foi dar uma arrumação ao celeiro que bem precisava de ser limpo e arrumado e dentro de um velho armário pintado de verde encontrou uma antiga gaiola de alumínio. Como sabia que o canário Amarelo tinha a dele já muito estragada perguntou-lhe se queria aquela.
- Quero, quero! – afirmou o canário, entusiasmado.
- É antiga mas está em bom estado. Eu pinto-a da cor que tu mais gostares e vai ficar bem bonita.
- Muito obrigado, tio Tomásio, estava mesmo a precisar de uma gaiola nova. Gostava que ficasse toda branquinha!
No dia seguinte, o dono apareceu com a gaiola toda pintadinha de branco, abriu a porta e disse, satisfeito:
- Já aqui tens a tua casa nova, Amarelo. Anda, entra!
O Amarelo ficou encantado, tinha comedores e bebedores novos também! E lá ficou pendurada num dos troncos do castanheiro que ficava à entrada da quinta. E o canário cantava, cantava o dia inteiro, muito feliz.
Dias depois, o gato Hipólito ao passar por ali viu o Amarelo à porta da gaiola.
- Olá, então agora tens uma casa nova, Amarelo?
- Tenho! Agora já não me poderás aborrecer, estou mais alto, vês? – e saltou para o poleiro.
- “Isso é o que julgas…” – pensou o gato, manhoso. Fingindo que se afastava, deu a volta ao castanheiro e sentou-se a pensar. Havia de descobrir uma maneira de subir até à gaiola. Um dos seus maiores prazeres era assustar o pobre do canário Amarelo.
- Já sei! Vou pedir ajuda à raposa.
E ela disse-lhe:
- É preciso uma escada, só com uma escada conseguirás chegar à gaiola.
- Boa ideia, raposa! Como é que eu não pensei nisso?
- Ora, porque não és inteligente como eu! – respondeu a raposa, vaidosa.
- E tu tens a mania que és muito esperta, não tens? – zangou-se o gato.
Começaram a discutir.
- Agora já não quero a tua ajuda para nada. Adeus!
E virou costas, muito arreliado.
Pelo caminho pensava onde iria encontrar uma escada que tivesse muitos degraus. A capoeira das galinhas ficava mesmo ao lado do castanheiro, por baixo da gaiola do Amarelo. O gato Hipólito pôs-se a olhar e sorriu olhando para cima.
- Vai ser uma grande brincadeira e um valente susto que vou pregar ao Amarelo.
Correu para o celeiro e depois de muito procurar encontrou uma escada muito alta e pesada. Nunca iria conseguir tirá-la do celeiro, sozinho.
- Que maçada! A quem hei-de pedir ajuda? À raposa, não! Talvez peça ajuda ao burro Anacleto, ele é tão burro que não vai desconfiar de nada! Boa!
O burro olhou-o espantado.
- Colocar uma escada em cima da capoeira das galinhas?
- Sim, ajudas-me?
- Mas para que queres tu uma escada em cima da capoeira? – perguntou o Anacleto que não era tão burro como o gato pensava.
- É para fazer uma surpresa ao Amarelo. A minha intenção é boa, não te preocupes! – garantiu.
- Que género de surpresa? – perguntou o burro desconfiado.
- Já me estás a aborrecer com tantas perguntas! Ajudas-me ou não?
- Antes terás que me dizer para que queres a escada. – insistiu o Anacleto.
- Eu não tenho que te dizer nada! Adeus! – e afastou-se furioso.
- “A mim não me enganas tu…” - pensou em voz alta o Anacleto.
Entretanto, o gato sentou-se na relva do jardim, desanimado.
- Tenho que encontrar alguém que me ajude, mas quem?
A raposa avistou-o e aproximou-se dele.
- Então, já encontraste alguma escada, Hipólito?
- Já, mas não tenho quem me ajude a colocá-la em cima da capoeira das galinhas.
- Bem, se quiseres posso ajudar-te… - ofereceu-se a raposa.
O gato olhou para ela e pensou que não tinha mais ninguém.
- Aceito a tua ajuda se não me aborreceres com os teus ares de espertalhona!
A raposa sorriu abanando o rabo farfalhudo.
- Está bem. Agora mostra-me onde está a escada.
- Está no celeiro, anda!
Enquanto isso, o Anacleto desconfiado das boas intenções do gato Hipólito, foi falar com o tio Tomásio.
- Uma escada? E para que quer ele uma escada? - perguntou o dono da quinta.
- Não me quis dizer, mas eu julgo que seja para assustar o canário Amarelo.
- Eu tiro-lhe a mania de andar a pregar sustos ao Amarelo! Um dia destes ainda o expulso da quinta! – proferiu o tio Tomásio, zangado. – Vamos lá fora ver o que se está a passar.
Tendo o cuidado de não se aproximarem demasiado do castanheiro, viram o gato Hipólito ajudado pela raposa Espertalhona a colocarem a escada em cima da capoeira das galinhas.
- Logo à noite, quando todos estiverem a dormir vamo-nos divertir tanto, Espertalhona! – dizia o gato.
O tio Tomásio moveu a cabeça, afirmativamente.
- Nem imaginas como te vais divertir, gato manhoso! – sussurrou.
Quando o Sol se escondeu dando lugar à Lua o Anacleto foi colocar um alguidar com água gelada ao lado da escada. Depois, dirigiu-se à casa da raposa Espertalhona.
- O tio Tomásio quer falar contigo, raposa.
- Comigo? Mas porquê?
- Não sei, é melhor vires comigo – aconselhou o Anacleto.
“Será que ele desconfia de alguma coisa?” – pensou ela assustada – “o tio Tomásio quando se zanga não é para brincadeiras”.
Já em casa do dono da quinta, ele começou a fazer-lhe perguntas.
- Ora diga-me lá, Dona raposa: a que horas combinou encontrar-se com o seu amigo gato?
A raposa atirou um pulo!
- Como é que o tio Tomásio sabe? – defendeu-se, aflita – Eu não tenho culpa de nada, ele é que me obrigou…
- A que horas, raposa? – insistiu o Anacleto.
- Ele deve estar a chegar, não sei…
O tio Tomásio levantou uma ponta da cortina da janela da sala. Lá estava ele a passear de um lado para o outro, impaciente.
- Onde se teria metido a raposa? Já cá devia de estar, eu bem sabia que não podia confiar nela! – resmungou.
- Anacleto, já sabes o que tens a fazer – disse o tio Tomásio.
A raposa perguntou baixinho:
- O que é que vocês vão fazer?
- Já vais ver, raposa.
Lá fora, o Hipólito ficava cada vez mais impaciente.
- Não espero mais pela raposa! Quem me manda confiar naquela mentirosa? – e começou a subir a escada.
Quando estava quase a alcançar a gaiola do canário Amarelo, o Anacleto começou a abanar a escada.
- Ai, quem está a abanar a escada? És tu raposa malvada? Ai, ai que eu caio!
Por fim, desequilibrou-se e caiu dentro do alguidar onde estava a água gelada.
- Socorro! Eu não sei nadar, ajudem-me! A água está gelada, socorro!
O Amarelo que adormecera cedo, acordou sobressaltado.
- Que barulheira é esta? – perguntou ainda ensonado.
O tio Tomásio tirou o gato Hipólito do alguidar e repreendeu-o, severamente.
- Não tens vergonha de estares sempre a assustar o canário Amarelo? Que este banho gelado te tenha servido de lição! Da próxima vez, o castigo será maior.
- Ai, que vergonha… Atchim…atchim… Sua traidora! – acusou, olhando para a raposa.
- Não foi ela – riu o Anacleto – fui eu que avisei o tio Tomásio. Pensavas que eu era burro? Sou burro mas sou inteligente.
- Fiquem sabendo que não hesitarei em expulsar os dois se insistirem com as vossas diabruras, ouviram? A Dona raposa já devia saber comportar-se desde aquela noite em que foi roubar amoras! – ralhou o dono da quinta.
Ela encolheu-se a um canto, envergonhada.
E o gato Hipólito com o pêlo eriçado e gelado até aos ossos tremia muito e espirrava ainda mais.
- Atchim…atchim…
O Amarelo voou para o ombro do tio Tomásio e acusou:
- Com que então querias assustar-me, não era? Bem feito!
O gato respondeu-lhe de mau humor:
- Não me aborreças!
Meteu o rabo entre as pernas e foi para casa a tremer e a espirrar.
- Atchim! Atchim…atchim…
Não parou de espirrar durante dois dias. Embrulhado num cobertor, com as patas traseiras mergulhadas numa bacia com água quente, o gato Hipólito jurou que nunca mais se envolveria em outra confusão.

Maria Manuela Amaral

2 comentários:

  1. Os gatos são uns malandros, mas como todos os malandros lá lhe chegou uma lição.
    Fantástica
    Beijos

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  2. não gosto de gatos ,mas a história está muito bem contada ,como sempre uma linda e boa imaginação beijossssss :-)

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